sábado, 22 de fevereiro de 2014
De Urubus, Sabiás e Desconcerto na Polícia Federal
"Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa , e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.
— Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...
— Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.
E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...
MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá."
http://www.releituras.com/rubemalves_urubus.asp
Meu Santo Deus!!!
Quando pensamos que chegamos ao fim do poço... Descobrimos que estamos num poço sem fim!
O texto de Rubem Alves, Urubus e sabiás, parece “interagir” com a atual “visão” dos delegados de polícia federal, que certamente é a visão do delegado de polícia em geral!
Vejam algumas das “propostas” dos delegados de polícia para “melhorar” a segurança pública” e as “estruturas” da Polícia Federal:
“Direito de preferência ao uso de vagas de garagem
Todo Delegado de Polícia Federal tem direito e pre¬ferência no uso das vagas das unidades da Polícia Federal, independentemente da ocupação de chefia”.
“A expressão ‘tratamento protocolar’ prevista na Lei 12.830/2013 abrange as prerrogativas dos membros no MP e Juízes, notadamente quanto ao direito de ser ouvido em processo judicial ou administrativo mediante prévio agendamento de data, horário e local”.
“Juízo de oportunidade na instrução do inquérito policial Na presidência da investigação criminal, cabe ao Delegado de Polícia exercer o juízo de legalidade e de oportunidade sobre diligência indicada pelos interessados na promoção da futura acusação ou defesa, sob o ponto de vista da conveniência da investigação e de sua conformidade legal” (sic).
E, a melhor:
“O correto pronome de tratamento exigível nas comunicações oficiais endereçadas ao Delegado de Polícia deverá ser o de “Vossa Excelência”.
Fonte dessas e de outras asneiras (de asno, mesmo!): http://www.adpf.org.br/congresso/files/Caderno_Tematico_VICNDPF.pdf
Não sei por que, mas vejo um “urubu” na figura dos delegados... Mas, o “canto” da “segurança pública” tem sido “rajadas de balas”...
Absolutamente essas “pérolas” extraídas do texto da associação de delegados de polícia federal, não são em favor da Sociedade Brasileira, e muito menos tem o desiderato de uma “segurança pública” melhor e uma Polícia Federal mais eficiente, efetiva e eficaz!
Tercio Fagundes Caldas - Advogado, Ex-Agente Federal,Vice Presidente e Diretor Jurídico do Sindicato dos Policiais Federais da Paraíba - SINPEFPB.
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