sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

O GUIMARÃES ROSA DO ACORDEOM

Um tal de José Domingos de Morais nasceu na cidade de Garanhuns, agreste pernambucano, oriundo de uma família humilde e numerosa. Seu pai, “mestre Chicão“, era um conhecido sanfoneiro e afinador de acordeons. Sua mãe poeticamente era conhecida como “Dona Mariinha”. Ambos, alagoanos.
Dono de uma prolífica discografia (sua produção vai de 1964 a 2010), desde menino José Domingos já se interessava por música, por influência do pai, que lhe dera uma sanfona de oito baixos. Aos seis anos de idade, aprendeu a tocar o instrumento e começou a se apresentar em feiras livres, bares, restaurantes e portas de hotéis, em troca de algum dinheiro, junto com dois de seus irmãos, Moraes e Valdomiro, formando o trio Os Três Pinguins.
No início da formação, tocava triângulo e pandeiro, passando depois a tocar sanfona. De tanto praticar o instrumento, por horas a fio, tornou-se um exímio sanfoneiro, impressionando a todos e passando a ser conhecido em Garanhuns como “Neném do acordeom”.
Sua consagração veio quando passou a compor a banda do mestre Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, que dispensa apresentações. Foi aí que obteve a reputação de grande instrumentista e arranjador, aproximando-se da “nata” da MPB (Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Toquinho, Chico Buarque, entre outros).
Como o escritor e gênio mineiro Guimarães Rosa desbravando os sertões e nossa língua, Dominguinhos ultrapassou todas as fronteiras e transformou uma linguagem musical regional em universal. Suas notas são econômicas e precisas, nada parece estar fora do lugar em sua música, que se vale dos melhores elementos da sonoridade da música popular nordestina, ampliando o alcance e significados do xote, baião, coco, forró, xaxado etc.
Suas improvisações são certeiras e não cansam o ouvinte. Ele extrai sentimento de cada nota, de cada acorde tocado. Todo músico de rock que se acha o ás da guitarra e enche o saco da plateia com solos quilométricos deveria ouvir Dominguinhos. Em certas linhas melódicas de suas músicas, não sentimos a ausência do canto na composição, o que atesta sua inegável qualidade de instrumentista.
No vídeo abaixo, vemos Dominguinhos em ação. O mestre absoluto do acordeom brasileiro! Quanta melodia e harmonia em seu clássico Lamento Sertanejo. Uma aula de música popular. De lambuja, dois grandes baixistas de nossa música também dão um show aqui: Arthur Maia e Ney Conceição. Com relação a essa pequena joia ao vivo, só tenho um comentário a fazer, ainda que a música fale por si só: quando vejo homens desse quilate produzindo maravilhas como essa, não entendo por que nosso Brasil continua sendo o país que poderia ter sido e que não foi…
Dominguinhos é atemporal. Sua fina melodia e suas ricas harmonizações fizeram de seu som regional um patrimônio universal do planeta música. Esse não deve nada a ninguém. Um músico com “m” maiúsculo.
Fonte: Site Cultura-e http://revistaculturae.com.br/



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sexta-feira, 25 de agosto de 2017


quarta-feira, 31 de maio de 2017

13 PONTOS PARA EMBASAR QUALQUER ANÁLISE DE CONJUNTURA

24 de maio de 2017
O complexo financeiro-empresarial não tem opção partidária, não veste nenhuma camisa na política, nem defende pessoas. Sua intenção é tornar as leis e a administração do país totalmente favoráveis para suas metas de maximização dos lucros.



por: Maurício Abdalla




1 – O foco do poder não está na política, mas na economia. Quem comanda a sociedade é o complexo financeiro-empresarial com dimensões globais e conformações específicas locais.
2 – Os donos do poder não são os políticos. Estes são apenas instrumentos dos verdadeiros donos do poder.
3 – O verdadeiro exercício do poder é invisível. O que vemos, na verdade, é a construção planejada de uma narrativa fantasiosa com aparência de realidade para criar a sensação de participação consciente e cidadã dos que se informam pelos meios de comunicação tradicionais.
4 – Os grandes meios de comunicação não se constituem mais em órgãos de “imprensa”, ou seja, instituições autônomas, cujo objeto é a notícia, e que podem ser independentes ou, eventualmente, compradas ou cooptadas por interesses. Eles são, atualmente, grandes conglomerados econômicos que também compõem o complexo financeiro-empresarial que comanda o poder invisível. Portanto, participam do exercício invisível do poder utilizando seus recursos de formação de consciência e opinião.
5 – Os donos do poder não apoiam partidos ou políticos específicos. Sua tática é apoiar quem lhes convém e destruir quem lhes estorva. Isso muda de acordo com a conjuntura. O exercício real do poder não tem partido e sua única ideologia é a supremacia do mercado e do lucro.
6 – O complexo financeiro-empresarial global pode apostar ora em Lula, ora em um político do PSDB, ora em Temer, ora em um aventureiro qualquer da política. E pode destruir qualquer um desses de acordo com sua conveniência.
7 – Por isso, o exercício do poder no campo subjetivo, responsabilidade da mídia corporativa, em um momento demoniza Lula, em outro Dilma, e logo depois Cunha, Temer, Aécio, etc. Tudo faz parte de um grande jogo estratégico com cuidadosas análises das condições objetivas e subjetivas da conjuntura.
8 – O complexo financeiro-empresarial não tem opção partidária, não veste nenhuma camisa na política, nem defende pessoas. Sua intenção é tornar as leis e a administração do país totalmente favoráveis para suas metas de maximização dos lucros.
9 – Assim, os donos do poder não querem um governo ou outro à toa: eles querem, na conjuntura atual, a reforma na previdência, o fim das leis trabalhistas, a manutenção do congelamento do orçamento primário, os cortes de gastos sociais para o serviço da dívida, as privatizações e o alívio dos tributos para os mais ricos.
10 – Se a conjuntura indicar que Temer não é o melhor para isso, não hesitarão em rifá-lo. A única coisa que não querem é que o povo brasileiro decida sobre o destino de seu país.
11 – Portanto, cada notícia é um lance no jogo. Cada escândalo é um movimento tático. Analisar a conjuntura não é ler notícia. É especular sobre a estratégia que justifica cada movimento tático do complexo financeiro-empresarial (do qual a mídia faz parte), para poder reagir também de maneira estratégica.
12 – A queda de Temer pode ser uma coisa boa. Mas é um movimento tático em uma estratégia mais ampla de quem comanda o poder. O que realmente importa é o que virá depois.
13 – Lembremo-nos: eles são mais espertos. Por isso estão no poder.


Maurício Abdalla é professor de filosofia na Universidade Federal do Espírito Santo