Por Ismael Benigno
Assisti, ontem, um documentário sobre o poder da internet 2.0 no ‘protagonismo anônimo’ de tantos blogueiros, tuiteiros e facebuqueiros no mundo.
O filme trazia algumas imagens interessantes da China, da Estônia e algum dado sobre a ‘balcanização’ da web, com redes de sites dedicados à pregação da Jihad islâmica e o recrutamento de potenciais terroristas ao redor do mundo. Era o ponto do filme: o poder avassalador da internet de catalizar pequenas revoluções, como os protestos no Irã, mas também de municiar o Mal com as mesmas facilidades de comunicação.
O trecho mais interessante do filme, porém, era o comportamento da República Popular da China para conter pensamentos liberais. Por lá, o Governo percebeu que não adiantava controlar o conteúdo de conglomerados de comunicação ou motores de busca. São alvos fáceis, porque poucos e imensos. Mas como conter meio bilhão de potenciais repórteres amadores, fazendo fotos de escolas destruídas, mendigos ou crianças feridas?
Então o Governo criou o ‘Exército dos 50 centavos’, um batalhão de 30.000 blogueiros e tuiteiros que publicava mensagens e artigos elogiosos ao Regime nas redes sociais, por 50 centavos cada peça. A estratégia, tão simples quanto patética, caiu no descrédito. Como em qualquer ponto do planeta, há um quociente mínimo de inteligência no ato de participar das redes sociais. O povo percebeu que os artigos pró-governo sempre ocupavam espaços de destaque nos sites.
O exército de bajuladores do regime comunista chinês custou muito dinheiro público, foi descoberto pelos usuários da rede e, no fim, virou um monumento à burrice de quem insiste em menosprezar a inteligência alheia. A web é a maior invenção do homem moderno porque mostra o mundo como ele é – e ele não é bonito, ordeiro, justo nem bondoso. Se você achar espaços públicos muito perfeitos e bonitos na internet, aquilo não é internet, é algum exército dos 50 centavos fraudando a internet.
A China tem dessas coisas.