terça-feira, 11 de junho de 2013
Neolilberalismo e neoliberais
Roberto de Oliveira Campos concedeu, nos anos 1990, ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, uma entrevista na qual dizia não conhecer o neoliberalismo e sim neoliberais.
Segundo Campos, o neoliberalismo é apenas um produto do liberalismo econômico neoclássico. É uma redefinição do liberalismo clássico, influenciado pelas teorias econômicas neoclássicas. Logo não há uma escola neoliberal e sim uma escola liberal. Sendo assim, concluiu, o que existe por aí são apenas pessoas que aderiram ao pensamento liberal e não um pensamento neoliberal propriamente dito.
A origem do neoliberalismo deve ser remetida à Escola Austríaca, mais precisamente aos economistas Ludwig von Mises e Friedrich von Hayek (este discípulo daquele), que formularam o pensamento econômico a partir da Lei de Say e da teoria marginalista, contestadas pelo britânico John Keynes, contemporâneo de ambos.
O pensamento de Lorde Acton, de Adam Smith e de Jean B. Say foram fundamentais na construção e no desenvolvimento do pensamento de Hayek, pois enfatizava a importância central da moralidade no desenvolvimento de uma civilização avançada. Para Hayek, uma economia próspera e o desenvolvimento da lei como um processo evolucionário requerem uma sólida ordem moral. Sem isso não haverá uma sociedade saudável, próspera e livre.
A economia mundial experimentou praticamente duas décadas de crescimento contínuo. O lastro de tal crescimento está nos princípios liberais esboçados por Smith, Ricardo, Say, os neoclássicos, Hayek, Mises, Friedman, etc. O modelo, é verdade, tem suas limitações, mas garantiu crescimento econômico, superou uma sucessão de crises e legou à periferia do capitalismo um lugar de destaque no cenário mundial, com China, Índia, Rússia e Brasil (BRIC) apitando alto sobre os destinos do mundo econômico.
Quando a crise econômica engolfou os Estados Unidos e a Europa, na virada do século/milênio, não faltaram os que euforicamente apontaram a dura realidade e como a alegria é fugaz. Como por encanto, esquecemos que o subdesenvolvimento não é uma doença crônica, nem a periferia do capitalismo é o saco de pancadas do mundo desenvolvido.
As teorias terceiro-mundistas serviram durante anos para difundir uma tristeza generalizada contra o desenvolvimento e o risco que seria viver num mundo globalizado. Os seus formuladores e simpatizantes vibram quando há sinais de crise no ar. É o momento em que vêm à cena os Antônios Conselheiros, abundam os seminários e os fóruns alternativos que proclamam o fim do sistema e a emergência de um outro, mais justo e humano, no qual não haverá pobreza, pois a justiça social irá desabrochar e enraizar-se fortemente. Os mesmos profetas do caos não piam quando a economia mundial vai bem, apenas usufruem das benesses do capitalismo explorador e injusto e torcem para que o trem saia do trilho, pois só assim poderão tornar audível a cantilena tosca e atrasada que adoram difundir.
Lula, Dilma, Mantega, Mercadante, Mirian Belchior e outros deste e do governo anterior (nem Serra, FHC e outros tucanos de alta ou baixa plumagem e democratas do ex-pefelê) não eram, não são e nunca serão liberais em política, tampouco em economia. Alinharam-se com o propalado Consenso de Washington. Os tucanos são menos intervencionistas que os petistas; os demo-pefelistas são patrimonialistas até a alma e só arrotam liberalismo.
Como a turma do PT-governo sabe que a história e a política são nutridas por versões, aderem ao Consenso de Washington apenas por conveniência tática. Faz com o sistema que disseram combater uma aliança conjuntural, oportunista, momentânea. Liberais na aparência e intervencionistas na essência.
Sérgio Luiz Bezerra Trindade é Professor do IFRN (slbtrindade@yahoo.com.br)
Veiculado em 24 julho 2012 no Portal http://jornaldehoje.com.br/
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